Simpática Freguesia que se situa a 18 km da sede de concelho.

A Freguesia de São Miguel de Acha foi vigararia da Ordem de Cristo (no termo Proença-a-Velha) e pertenceu à Chamada Mesa da Consciência e ordens. Tem como padroeiro S. Miguel (Arcanjo de Portugal).

A Capela da Nossa Senhora do Miradouro fica situada na artéria principal da aldeia e merece uma visita atenta. É um espaço verdejante muitas vezes utilizado como ponto de encontro. A casa da cultura, obra singela beleza, foi inaugurada em Abril de 1998, promove eventos culturais e exposições de diversas temáticas.

A fachada da Igreja Matriz (meados do séc. XVIII) é de uma construção bonita assim como a torre sineira.

Pelas ruas, é fácil encontrar múltiplos jardins suspensos de distintas tonalidades. As crianças gostam particularmente, de fazer os trabalhos da escola ao ar livre, à soleira da porta.

Percorrendo a Rua do Rossio aproveite para se refrescar na Fonte com o mesmo nome, onde se encontra 4 tanques de roupa à disposição da comunidade. Bem perto, uma carroça de madeira, descansando de árduos trabalhos agrícolas, encostada ao muro de granito perante a indiferença dos que passam. A ponte de São Gens marca a entrada em terras de Idanha e, a breve trecho, nas de São Miguel de Acha. A EN 233 segue para norte em direcção a esta última, acompanhando a encosta numa sucessão de curvas mais ou menos apertadas, as barreiras de São Miguel.

Para trás, deixamos o amplo vale onde confluem as ribeiras de Alpreade e da Caniça, interessante exemplo da acção do homem sobre a paisagem, com as terras de cultivo a envolver a linha sinuosa das árvores que definem as galerias ripícolas.

As encostas em redor não podiam oferecer maior contraste: se do lado de Oledo observamos o denso arvoredo feito de olivais e montado, de sobro e de azinho, a encosta de São Miguel de Acha, mais abrupta e pedregosa, mostra um coberto Vegetal mais redor e no meio da aldeia. Uma densa cintura de montado, hortas, pomares e olivais, a que se somam os jardins de algumas das velhas casas abastadas, onde palmeiras, tamareiras, magnólias, castanheiros e lilases da índia, araucárias e buganvíleas, muitos deles de porte notável, conferem uma nota exótica ao conjunto.

Os inúmeros vestígios arqueológicos ilustram uma longa história, ainda que pouco documentada. Os resultados desse percurso no tempo não se esgotam na aldeia. Os campos em redor revelam ao visitante atento testemunhos diversos, da presença romana às sepulturas escavadas nas rochas, passando por um interessante conjunto de equipamentos rurais desactivados, onde, além da última estrutura percetível de um lagar de azeite com pia da tracção hidráulica, se destacam os fornos de telha e os muros apiários, reflexos da importância que estas actividades aqui gozaram outrora.

A aldeia em si mesma é detentora de uma carga patrimonial notável, tanto a nível material, como imaterial. As implicações das mudanças registadas ao longo das últimas décadas não foram suficientes para deitar a perder o essencial da configuração urbana ou de velhas práticas culturais, como séculos de existência.

Na Malha urbana densa e sinuosa, os motivos de interesse são muitos: a antiga Câmara Setecentista; os solares e mansões que, do século XVII ao século XX apresentam várias referências estilísticas, incluindo os ecos tardios do romantismo de oitocentos, raros na região, do pequeno Chalet que se esconde entre o arvoredo dos arredores da aldeia; a Arquitectura popular, que se destaca pela diversidade da decoração das cantarias, de portados e janelas.

O domínio do sagrado merece aqui uma menção particular, pois a eles se deve muito do carácter peculiar de São Miguel se reveste. A começar pelo edificado. Um bom ponto de partida é a Sr.ª do Miradouro, à beira da EN 233, junto à pequena ponte de guardas talhadas em canaria de granito, com forma de assento de espaldar alto. A capela é representativa de uma tipologia arquitetónica comum nesta aldeia.

Á excepção da de Stº António, hoje demolida, todas as capelas daqui tem (Sr.ª do Miradouro, Stª Catarina e São Sebastião) ou tiveram alpendre (São Pedro).

Entre estas, destacam-se a Capela de Nossa Senhora do Miradouro, seiscentistas, e a da Santa Catarina, reconstruída no Século XIX, cujo elegante alpendre de seis colunas altas foi lamentavelmente mutilado em tempos recentes, como o roubo de duas delas.

Sob vários aspectos, a Matriz constitui um dos motivos de interesse maior da povoação. Na actual configuração predominam as referências setecentista, visíveis sobretudo ao nível da fachada e dos portados laterais, cuja composição e gramática decorativa os colocam num programa coevo de intervenções noutros lugares da região, nomeadamente Proença-a-Velha. No interior, o altar-mor barroco em talha dourada, que segundo se crê terá vindo da igreja de extinto convento de santo António de Idanha-a-Nova, é razão mais do que suficiente para uma visita.

A este conjunto de espaços liga-se um conjunto de práticas devocionais, ainda hoje muito vivas entre a população, algumas das quais singulares, o destaque maior cabe ao ciclo pascal e neste a duas manifestações em particular, de onde os géneros se excluem mutuamente: a encomendação das almas, entoada por mulheres vestidas de negro na noite das sextas-feiras de Quaresma em pontos altos da aldeia, incluindo a torre da igreja, onde no final do cântico, tocam os sinos a dobrar como por morte de alguém: e o terço pelas ruas, entoado em voz alta por homens que percorrem a aldeia, parando junto dos oito nichos onde cantam os Passos da Via Sacra.

Testemunho deste apego às marcas de identidade local é o empenho que a comunidade tem posto na sua manutenção. São Miguel de Acha tem sabido afirmar-se a partir da sua Matriz Cultural. Mistério? Mais um somar aos muitos que a sua história nos devolve sob forma rica das lendas que por aqui se contam, a começar pelo próprio nome da aldeia, herança remota de uma princesa moura.

Fonte

Fotos

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